ANDAR DE BICICLETA
Aos seis anos de idade ganhei uma pequena bicicleta azul, que veio com duas rodinhas auxiliares.
Motorista de primeira viagem, fui, com meu avô Simão, estrear o brinquedo na praça em frente à Catedral de Botucatu. Vovô, nos seus 60 anos, esforçava-se para me acompanhar nas voltas pela praça. Até fazermos uma parada estratégica, para ele descansar e acender seu cigarro de palha, velho hábito dos árabes antigos. Eu estava muito entusiasmado. Depois de umas 10 voltas, me sentia à vontade pilotando, quase andando com as rodinhas auxiliares totalmente erguidas.
Praça da Catedral Metropolitana, Botucatu, SP
Então pedalei firme, deixando vovô pra trás. No meio da praça havia um lago e nas suas laterais cercas de arame.
No meio do arame um pedaço de arame farpado. Desequilibrei, a bicicleta foi parar na cerca de arame e eu bati a orelha direita exatamente no meio do arame farpado. Começou a jorrar sangue, vovô ficou assustado e me levou rapidamente pra Santa Casa de Misericórdia, o hospital ao lado da igreja. Lá, o médico de plantão nos acolheu e recebi dois pontos na orelha.
Mais apavorada mostrou-se mamãe, quando soube do ocorrido. E sentinu-se “culpada” por ter permitido ao filhote acesso a um objeto tão perigoso. Assim a pequena bicicleta azul foi, discretamente, tirada de circulação. Lembro-me, de um tempo, de vê-la pendurada nas travessas do forro da garagem da casa dos meus pais. Podia olha-la, sem trauma. Pois, eram tantas as brincadeiras na infância que logo não pensava mais nela. Também não lembrava de bicicleta na adolescência, quando o meu esporte preferido era a música.
Já, morando em São Paulo, andar de bicicleta voltou a me fascinar. Foi em 1972, no lançamento da famosa Calói 10. Um fenômeno de 10 marchas, câmbio com comando duplo, selim revestido, guidão no formato de competição.
A Caloi 10 era prática, facilmente desmontável. Ideal para colocar no espaço do banco traseiro do fusca e levar-me para os parques. Nos finais de semana prolongados, nas férias, carregar-me, novamente, pros recantos da cidade natal. As 10 marchas, da bicicleta branca com pneus tubulares e garrafa plástica sob o quadro, eram muito eficientes.
Em especial, para enfrentar as ladeiras incomuns de Botucatu, pedalar tranquilo pela estrada da Fazenda Lajeado e chegar, em velocidade pela rodovia, até os arredores da UNESP,
Onde funcionam as faculdades de Medicina, Veterinária, Agronomia e outras no Distrito de Rubião Júnior.
No começo dos anos 90, as bikes tiveram uma evolução importante no peso e no design. Em família, escolhemos 2 bikes de alumínio, uma azul e outra vermelha. Transportadas em suporte traseiro instalado no carro, foram grandes companheiras de caminhadas pelas ruas, campo, cidade, em várias viagens.
Neste momento atual, as lojas e as oficinas de bike estão se multiplicando. Há muitos modelos e marcas de bikes nacionais e importadas. As bikes elétricas buscam seu espaço e os seguros de bike ficam mais sofisticados. Ciclovias também se expandem pelas cidades
Agora, uma vez mais, sentimos desejo de andar de bicicleta. Meu filho e eu decidimos tirar as capas das nossas bikes dos anos 90, que permanecem conservadas no bicicletário do condomínio. Vamos leva-las, carinhosamente a uma oficina especializada para uma garibada geral.
Daí, com segurança e liberdade, pedalarmos, pedalarmos, pedalarmos.
Andar de bike ouvindo, ao fundo, a melodia marcante da música “Bicicleta” que batiza o disco do Boca Livre e é de autoria de Zé Renato.
Andar de bike e imaginando Paul Newman, como Butck Cassidy e Katharine Ross como Etta Place, namorada de Saundance Kid, interpretado por Robert Redford, andando juntos de bicicleta em cenas inesquecíveis do filme “Butch Cassidy and The Sundence Kid”. A composição de fundo é Raindrops keep falling on my head, composição de Burt Bacharach e Hall Davis, sucesso de B.J. Thomas em seu LP de 1969. “ Raindrops keep falling on my head, But that doesn’t mean my eyes will soon be turning red. Crying’s not for me. Cause I’m never gonna stop the rain by complaining. Because I’m free, Nothing’s worrying me”
NOTA 1 – Esta crônica escrita complementa o podcast do episódio 31 “Andar de Bicicleta”, do Canal Semônica, criação de Nando Cury e produção do podcastmais.com.br
NOTA 2 – Pesquisa histórica e musical, texto e voz no podcast por Nando Cury
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