PAPO DE ORNITÓLOGO
Hoje resolvi entrar num reino de extrema beleza, cheio de cores, sons, plumagens e que levanta vôos. Segundo dados da Bird Life International existem cerca de 10.500 espécies de aves no mundo. Já a Sociedade Brasileira de Ornitologia informa que 1971 são encontradas no Brasil, que é o terceiro maior país em diversidade (dados atualizados de 2021).
As aves são cientificamente classificadas considerando-se várias características, como: o tipo de bico, o formato da garra ou pé e hábitos alimentares. As principais classes presentes em nosso território são: Passeriformes (andorinhas, bem-te-vis, sabiás, canários, uirapurus…) que representa a metade das espécies conhecidas; Galliformes (galinhas, pavões, perús, perdizes…); Falconiformes, que são carnívoras (águias, gaviões, falcões, carcarás…);
Psittaciformes (araras, papagaios, maritacas, calopsitas, periquitos…); Anseriformes (gansos, cisnes, patos, marrecos); Apodiformes (beija-flores e colibris); Cathartiformes (urubus); Ciconiformes (garças, tuiuús…); Piciformes (pica-paus e tucanos);
Rheiformes (emas, avestruzes); Columbiformes (pombos, rolinhas); Chiroptera (morcegos); Strigiformes (corujas); Charadrilformes (gaivotas, quero-queros…).
Então, depois deste breve reconhecimento, com pesquisa sujeita a margem de erros, vou tentar lembrar de aves e canções que guardei na minha memória musical. E convido você a fazer o mesmo.
A primeira que recordo foi uma dica dos meus primos Beto e Zé Luiz que já eram apaixonados pela bossa nova. A voz do cantor e o toque de seu violão também eram algo muito marcante na interpretação de “O Pato” (Jayme Silva e Neuza Teixeira), gravado por João Gilberto em 1959. “O pato vinha cantando alegremente, qüem, qüem. Quando um marreco sorridente pediu. Pra entrar também no samba, no samba, no samba. O ganso gostou da dupla e fez também qüem, qüem, qüem. Olhou pro cisne e disse assim, vem vem. Que o quarteto ficará bem, muito bom, muito bem.”
Outra canção antiga que trago há anos na memória é Uirapurú, (Jacobina e Murilo Latini), lançada por Nilo Amaro e os Cantadores de Ebano (1962). “Uirapuru, ô Uirapuru. Seresteiro, cantador do meu sertão. Tens no canto as mágoas do meu coração.” Um dos Cantores de Ébano, com sua voz muito grave, fazia um contracanto. Algo assim: “Derindão”.
Depois, assustei com Carcará (João do Vale), que me apresentou Maria Bethânia, em 1965: “Carcará Lá no Sertão. É um bicho que avoa que nem avião… Carcará Pega, mata e come. Carcará não vai morrer de fome. Carcará. Mais coragem do que homem”.
Em 1972, Gilberto Gil, em seu incrível disco Expresso 2222, renovou outra música de João do Vale em parceria com Aires Viana e Alventino Cavalcante. Ela traz como protagonista “O Canto da Ema”: “A ema gemeu no tronco da jurema. Foi um sinal bem triste, morena. Fiquei a imaginar. Será que é o nosso amor, morena, que vai se acabar?”.
Num momento muito inspirado em defesa da natureza, Chico Buarque vasculhou demoradamente o dicionário de seu tio Aurélio, para descobrir e rimar os 35 nomes de pássaros diferentes de “Passaredo” (Chico Buarque e Francis Hime, disco Meus Caros Amigos, 1976): “…Anda, trigueiro. Te esconde colibri. Voa, macuco. Voa, viúva. Utiariti. Bico calado. Toma cuidado. Que o homem vem aí.”
Naquela bela época de paquera por meio de cartas manuscritas, Moraes Moreira gravou uma marchinha que ficou famosa no carnaval de1978. Era “Pombo correio” (Osmar Macedo, Adolpho Antonio Nascimento, Antonio Pires): “Pombo correio voa depressa. E esta carta leva para o meu amor. Leva no bico que eu aqui fico esperando. Pela resposta. Que é pra saber se ela ainda gosta de mim.”
Em 1981 Xangai lançou um disco com duas músicas em homenagem às aves: “Cantoria do Galo” (Xangai e Jatobá).
E a canção que batiza o álbum “Que que tu tem canário” (Xangai e Capinan): “Canarinho da terra. Canarinho do rio. Canarinho da Bahia. Qué qui tu tem canário. Qué, que quando canta arrepia.”
Para o tema ficar ainda melhor representado, deixando outras lindas obras em standby, quero acrescentar duas canções que não podem faltar neste meu set list. São do Boca Livre,do álbum “Bicicleta” de 1980: “Passarinho” (Lourenço Baeta) e “Se meu jardim der flor” (Zé Renato e Xico Chaves) que deve ser ouvida na linda versão do Boca Livre com o MPB4, de 1981: “Se meu jardim der flor. Colore em mim a saudade. No meio dessa cidade que a manhã clareou. Virá um beija-flor, aqui ali sem pousar. E vai entrar nos meus olhos. Só pra te encontrar.”
NOTA 1 – Esta crônica escrita complementa o podcast do episódio 66 do Canal Semônica, criação de Nando Cury e produção do podcastmais.com.br.
NOTA 2 – Pesquisa histórica e musical, texto e voz no podcast por Nando Cury
Imagem Header e Capa: Arara na natureza
Compartilhe: